Gestão participativa escolar: o que é e como esse novo modelo pode transformar sua escola

Você, gestor ou educador, já conhece ou ouviu falar em gestão participativa escolar? Sabe como funciona, seus benefícios ou como esse método pode transformar não só o ambiente de trabalho como o desenvolvimento do ensino-aprendizado na sua instituição de ensino?

Nos últimos anos, especialmente com a revolução tecnológica e o crescente aumento do acesso à informação, as pessoas estão cada vez mais preocupadas e atuantes nos espaços públicos e privados, físicos ou digitais — lutando por seus direitos, expondo suas opiniões e discutindo questões de interesse coletivo.

Vivemos em uma democracia e o aumento da participação popular ativa em todas as esferas sociais reflete a reivindicação do poder que pertence ao povo — e isso não poderia ser diferente na educação.

Escolas adotam diferentes modelos de gestão, desde os mais tradicionais que ainda centralizam as tomadas de decisão nos cargos de direção, aos mais contemporâneos, que distribuem responsabilidades e estimulam o envolvimento de toda a comunidade escolar em prol de uma instituição mais democrática e inclusiva — como é o caso da gestão escolar participativa.

Quer saber mais sobre o que é a gestão participativa, como ela funciona, sua importância e benefícios para o desenvolvimento escolar? Continue lendo este artigo até o fim! Aqui você vai encontrar:

O que é gestão participativa

A gestão participativa é um modelo de organização que visa incluir de forma ativa e colaborativa todos os integrantes da comunidade escolar — gestores, professores, alunos e familiares — nos processos de gestão da instituição, o que envolve tomadas de decisão definição de objetivos, implementação de projetos, questões envolvendo infraestrutura, atividades extracurriculares, metodologias de ensino e aprendizagem, entre outros eventos.

O objetivo da gestão participativa é estabelecer uma parceria entre gestores e comunidade escolar, fazendo com que ambas as partes possuam espaço para opinar e sugerir melhorias e soluções para demandas e necessidades que envolvam o processo educacional.

A aplicação desse método, porém, não significa que todas as decisões precisam do aval de todos os integrantes ou devem ter ciência sobre tudo que é feito. O intuito principal aqui é o de fazer com que todos reconheçam o importante papel que ocupam dentro da instituição para que, assim, assumam responsabilidades e contribuam para o melhor desenvolvimento escolar.

Importância da gestão participativa na escola

A gestão escolar tradicional centralizada e burocrática, normalmente focada na figura do diretor, engessa os processos e afeta a pluralidade e inclusão da comunidade escolar. Além disso, ao não integrar e construir essa rede de relacionamento entre os demais colaboradores, professores e familiares, acaba também por tomar decisões e executar ações que não levam em consideração todas as realidades envolvidas.

Com o envolvimento de todos, é possível ter uma visão mais ampla e completa das demandas, interesses e necessidades de cada parte, a fim de seguir caminhos mais assertivos, eficientes e saudáveis para todos. Além disso, construir um ambiente colaborativo e participativo nas instituições de ensino é uma forma de trazer a democracia para dentro da escola — o que não só serve como uma prática exemplar aos alunos, como também insere a instituição na comunidade de maneira mais fluida e espontânea.

Uma gestão escolar participativa e colaborativa traz benefícios para todos os envolvidos, entre os principais podemos citar:

Benefícios da gestão participativa escolar

1. Para alunos: aprendem a importância de tomar parte em decisões que envolvem seus direitos e interesses, e a lutar em prol das necessidades coletivas; participam com mais engajamento e motivação das aulas; se tornam cidadãos empáticos e preparados para participar ativamente da transformação da sociedade fora da escola;
2. Para professores: se dedicam cada vez mais ao desenvolvimento do trabalho; constroem uma melhor relação com os pais/responsáveis; criam canais aberto de diálogo e opinião junto aos alunos; usufruem de um ambiente e rotina de trabalho mais saudável e descomplicada.
3. Para gestores: têm mais facilidade para tomar decisões; com a divisão de responsabilidades e a descentralização do poder, há menos pressão no trabalho; resultados compartilhados entre todos, independente de erros ou acertos;
4. Para as famílias: pais e responsáveis se tornam mais atentos ao comportamento e desempenho dos filhos; atuam mais ativamente na rotina escolar; conhecem de perto o processo educativo que está sendo desenvolvido com os seus filhos e participam de forma colaborativa para melhorar ainda mais os processos escolares;

Qual o papel do líder na gestão participativa?

Se você chegou até este ponto da leitura, talvez esteja se perguntando: então quer dizer que em uma gestão participativa não há líderes?

A resposta é não, muito pelo contrário. Em uma escola participativa, os papéis de liderança se tornam ainda mais relevantes, afinal, quando se trata de gestão escolar, ter bons líderes é crucial. A diferença é que a nova liderança escolar é menos sobre um comando centralizado “de cima para baixo” e mais sobre liderar pela, com e através da comunidade.

A ligação entre gestão participativa e liderança não diz respeito apenas à democracia, mas também à capacidade dos líderes de inspirar e mobilizar as pessoas em torno de objetivos comuns. Esse novo tipo de liderança está mais sintonizado com as necessidades e interesses das pessoas, o que resulta em alunos, colaboradores e familiares mais motivados e engajados.

Os melhores líderes escolares são colaborativos, abertos ao feedback e comprometidos com o sucesso de toda a comunidade escolar. Eles são assertivos, mas também sensíveis às necessidades e sentimentos dos outros. São empáticos e apaixonados pela missão da escola, e estão comprometidos em construir boas relações com as pessoas, não apenas dar ordens. A liderança na gestão participativa é sinônimo de construção de uma cultura de colaboração e inclusão.

Vantagens da gestão participativa para a gestão escolar:

• Tomada de decisões mais simples, fácil e inclusiva;
• Responsabilidades e resultados compartilhados entre todos que fazem parte do processo;
• Alívio do trabalho sob pressão e a consequente melhoria na qualidade de vida e aumento no engajamento profissional;
• Participação mais ativa e humana dos gestores no dia a dia escolar, diminuindo o isolamento de quem antes assumia o papel de “chefe”.

Importância da participação da família na administração escolar

Assim como a participação da família na rotina de estudos faz toda a diferença no desenvolvimento e qualidade da educação dos alunos, o envolvimento dos pais e responsáveis na gestão escolar também tem um papel agregador e fundamental para os processos educacionais da instituição de ensino.

A família é a principal fonte de apoio social, psicológico e emocional dos estudantes, e, exercendo o papel de primeiros educadores na jornada educacional, também são uma fonte imensurável de apoio escolar. Apesar da correria do dia a dia, é importante se esforçar para se envolver e opinar na vida escolar dos filhos, e ter a ciência que não há divisão entre a educação “na escola” e “em casa”. O processo é um só, construído em conjunto e de forma complementar.

Ao conhecer e acompanhar de perto esse processo, os familiares têm o pleno conhecimento sobre as metodologias de ensino, atividades e tudo mais que está sendo desenvolvido em prol do ensino-aprendizado dos seus filhos. E, com a implantação de uma gestão participativa, eles têm voz para opinar, sugerir melhorias e participar mais ativamente da formação dos estudantes.

Familiares engajados na comunidade escolar também se tornam exemplos de cidadãos para os filhos, que além de demonstrarem melhor rendimento nos estudos, se tornam jovens mais empáticos, interessados em defender seus direitos e preparados para enfrentar os desafios da vida adulta. 

Desafios da gestão participativa nos tempos atuais

Mesmo com os inúmeros e inegáveis benefícios e vantagens, a implantação da gestão participativa nas escolas ainda enfrenta uma série de desafios, especialmente por ser um modelo de organização ainda bastante recente.

Boa parte dos adultos de hoje foram jovens educados dentro de um sistema tradicional em que o poder era centrado na figura do diretor e os gestores eram responsáveis por todas as decisões. Unido a isso, o próprio modelo de ensino seguia uma fórmula muito engessada, em que os professores deveriam ensinar os conteúdos na frente da sala de aula, enquanto os alunos permaneciam calados, e os pais apenas revisavam os deveres e compareciam às poucas reuniões durante o ano.

Superar as barreiras do que já é conhecido e tido como “normal” não é uma tarefa fácil ou simples, mas não é impossível. Porém, para alcançarmos o êxito, é inegável que ainda há diversos desafios a serem vencidos por cada grupo da comunidade escolar:

1. Gestão: sair da posição autoritária e central de “chefe”; estar aberta ao diálogo; se dispor a aceitar críticas e sugestões de todas as partes envolvidas;
2. Alunos: se desprender da visão de que seu papel é o de apenas sentar e ouvir o professor, ou apenas ir para escola para decorar conteúdos ou fazer amigos. A escola é um local de desenvolvimento pessoal, intelectual e social, onde todos devem se sentir à vontade para serem ouvidos e participar dos processos.
3. Família: é preciso se envolver mais na vida escolar dos filhos e entender que o processo educativo é um só, conjunto e complementar. Ao se tornarem agentes participativos na comunidade escolar, também se tornam exemplos de cidadãos para os filhos.

Por uma educação participativa e colaborativa: de onde viemos e onde queremos chegar

A implantação da gestão participativa nas escolas ainda é um processo recente e em andamento no Brasil, mas a busca por uma educação mais colaborativa é antiga e tem sua história paralela à estruturação da democracia no nosso país.

Com o fim do período da Ditadura Militar e a redemocratização do Brasil, em meados da década de 80, houve também uma forte busca por uma educação mais plural, igualitária e inclusiva.

Foi baseada nesse princípio, que a Constituição de 88 trouxe em seu artigo 205: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para  o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

A educação colaborativa é um direito incentivado e garantido por lei, e tem ganhado cada vez mais espaço nas escolas através da concretização da execução do modelo participativo de gestão.

As mudanças ocorridas em nossa sociedade exigem transformações também no sistema educacional, que precisa se adaptar às novas exigências do mercado e às demandas de uma geração cada vez mais conectada, informada e ativa nas esferas sociais.

Sair de um modelo convencional e já tão conhecido não é fácil, e certamente não irá acontecer do dia para a noite. Muitas escolas já estão implantando o modelo em seus processos, no entanto, é preciso ter a consciência de que não há uma fórmula exata: cada instituição irá adaptar os processos aos seus próprios contextos e necessidades.

Para facilitar e melhorar a organização, uma boa sugestão é segmentar a comunidade escolar em grupos específicos como grêmios estudantis, associações de pais e mestres e conselhos escolares, e realizar reuniões periódicas entre os representantes de cada um para avaliar decisões importantes envolvendo o desenvolvimento escolar e o funcionamento da instituição no geral.

Implantar esse modelo de gestão pode não ser simples ou rápido, e ainda existem diversos desafios a serem superados, mas os benefícios são evidentes e a tendência é que ele se expanda cada vez mais pelas escolas de todo o Brasil. 

O que resta saber é: sua escola está preparada para dar esse próximo passo rumo à educação do futuro?

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